“Meu querido Pai Natal,
Eu desejo receber a “Barbie dentista” e uma cozinha de brincar. Gostava de passar o Natal com a minha mãe, o meu pai, a minha irmã, a tia, tio e o meu primo pequenino. Adoro quando a minha mãe faz peru para a consoada, mas ela disse-me que este ano vai fazer bacalhau. Convence-a a fazer peru, vá lá.
Hoje fiz a árvore de Natal com a minha mãe e ficou muito engraçada! Este ano a minha irmã não nos quis ajudar, pois disse que já não ligava a isso, não percebo porquê, eu adoro fazer a árvore de Natal!”
Tinha acabado de jantar e pedido para me levantar da mesa, agora estava a reler novamente aquela carta que tinha escrito ao Pai Natal e posto na botinha há quatro anos atrás! Como estou diferente! Já não brinco com bonecas e a cozinha está no sótão!”-pensei eu.
Aquela noite estava a ser tão triste. Desta vez o Natal era passado em minha casa com os meus avós, não tinha o meu primo a chatear-me para brincar com ele que, apesar de ser chato, alegrava-me. Não havia nada para fazer, sentia-me só, o Natal deixou de ser significativo para mim, agora sim percebia a minha irmã, quando dizia que fazer a árvore de Natal não era assim tão especial…Este ano foi a minha mãe que a fez sozinha, à sua maneira!
Já não me importava com o que iria receber, mas sim, se as pessoas iam gostar das prendas que eu iria dar, e este ano não espreitei nem uma única vez as minhas prendas que estavam na árvore de Natal, não tive simplesmente curiosidade.
O espírito natalício naquela sala era tão pouco ou quase nulo. Estava triste, apetecia-me chorar. Porque é que a minha família não era como todas as outras? Que raio de espírito era aquele para uma altura de Natal?
O pior é que deve ter sido sempre assim, eu é que era pequenina e não me apercebia disso!
Não aguentei e fui chamar a minha irmã, desabafei com ela. Depois, ela contou-me que sentia o mesmo e disse-me:”Tenta não pensar nisso. Olha já sabes o que vou te dar? Ah, não te digo ! O que será?!”
Com um piscar de olho e um sorriso contagiante fez com que descontraísse, e quando pensava no que se tinha tornado o meu Natal, o meu pensamento caía novamente na curiosidade e ânsia de saber o que iria receber, que presente me iria dar a minha irmã!
Mas, pensando bem, naquele momento já tinha recebido o melhor presente de todos os meus Natais.
Joana Sofia Lopes Ramos